Dani em Religare

Sinta-se a vontade para conhecer a seu modo como Dani nos apresenta esse espaço, fragmento de memória, e um convite à descoberta. Divirta-se!

Roteiro: Danielle Ramos 
Consultoria: Marco Antônio Mabac 
Voz: Danielle Ramos

Transcrição:

Olá, meu nome é Danielle Ramos. Faço parte do elenco do espetáculo Religare. Seja bem vinda, bem vinde e bem vindo ao Espaço das Travessias! 

Farei para ti a audiodescrição desse espaço. 

Há aproximadamente três metros e meio de altura, de um chapéu de palha saem diversos fios de sisal esticados e fixados no chão, formando uma espécie de tenda com uma base no formato de um barco. 

No chão, contornando externamente essa base, há um fio com seis pequenas luzes retangulares de led azul. A bateria deste módulo de iluminação está sobre um pedaço de miriti na ponta esquerda da base, do lado de fora. Externamente, entre as luzes, há doze pequenas placas quadradas pintadas de azul e com efeito craquelê, formando algumas rachaduras que lembram a superfície das águas. Uma dessas placas também está na entrada, do lado esquerdo da tenda. Contornando internamente a base, há folhas de erva cidreira. No canto esquerdo desta base-barco, há um punhado de erva-cidreira amarrado por fio de juta. No canto direito, há dois instrumentos percussivos: um agbê de cabaça com contas em variação de cores lilás e azul e um ganzá de miriti revestido de tecido florido lilás. Junto ao agbê, há a máscara que utilizo no espetáculo. Ela se chama Ravú. É uma meia máscara feita de gesso com papel craf, pintada de tinta prateada. Na testa da máscara, há um crochê no formato de um triângulo invertido nas cores azul, vermelho e branco. Da ponta do crochê, saem alguns fios de mesma cor que se estendem para além da máscara, ficando sobre a boca. Em cada lateral da máscara, na altura dos olhos, há uma corda dourada. O interior da máscara é em papel craft e ela é presa por um elástico preto. Próximo à entrada desta base-barco, do lado direto, no chão e amarrado a um dos fios de sisal, há um glossário artesanal, de formato retangular, feito de papel craft e fio encerado marrom. Com caneta preta, na capa está manuscrito: GLOSSARIOLALIA: pequeno glossário de palavrasinventadas-chaves. São onze as palavras seguidas de seus significados: 1. Bazú-sarô/bazú-saronhã (ancestralidade, divindade), 2. Borôbo (criação), 3. Cati (semente), 4. Cutuvu (fogo), 5. Fuburu/fuburunhã (útero, grande mãe), 6. Ratafate (raízes), 7. Siziri (folhas, matas), 8. Suágue (água, chuva, cachoeira, mar, rio), 9. Tungapê (corpo), 10. Veguêle (terra), 11. Veguelê-suágue (lama, barro). No verso de cada página, há um desenho que simboliza a palavra inventada. Em cada um dos fios de sisal da base-barco, está pendurada ou uma fotografia de família com um ramo de erva-cidreira ou um cartão artesanal de papel craft contendo trechos de textos escritos durante a oficina Corpo e Memória. Tu podes ouvir estes trechos acessando o terceiro QRCode, de cima para baixo, fixado do lado direito da entrada da tenda. Os outros dois QRCodes são o poema “Eus” e “Glossolalia (som da cena)”. Te convido a ouvi-los também! 

No Espaço das Travessias, encontras ainda o figurino que utilizo no espetáculo. É um saruel de tecido branco maleável com ombreira de macramê em barbante cru. Na frente, na altura do peito, em letras pretas e em camadas espiralares, está por mim escrito: “Tem outros contigo, tem muitos outros aí. Não os conheceste, mas, de muitas formas, eles dizem da tua existência, da tua chegada, da tua travessia. Eles dizem de perto, tão perto. Eles dizem de muito longe. Hoje te escrevo daqui, disso que tem nome de tempo…”. 

Carta A Transformação

Transcrição da carta

Atrás da tenda, compondo o Espaço das Travessias, há a minha carta de tarot. Ela se chama “A transformação”. Nela, ao centro e de pé sobre um chão de madeira escura, há uma fotografia minha de corpo inteiro. Sou uma mulher de 40 anos de idade, negra de pele parda, magra, de estatura mediana e sou pessoa com deficiência visual monocular. Meus cabelos são escuros e enrolados, estão presos. Uso uma camiseta preta, uma calça azul marinho e estou descalça. Minha expressão é neutra. Nesta fotografia, fiz intervenções. Sobre o fundo, à altura de minha cabeça, dos dois lados, há um emaranhado com fios de crochê laranja. Meus olhos estão contornados por uma tinta laranja. Ao redor de minha boca, para fora, há traços pretos. Sobre meu pescoço, estendendo-se até o peito, há uma pintura em tons laranja e amarelo, que lembra uma chama invertida. Meus braços também estão irregularmente pintados nessas cores. Deles saem setas onduladas douradas. Sobre meu corpo, do abdômen até as pernas, estão colados fios azuis de crochê. Formando linhas paralelas horizontais, eles são mais extensos em cima e recobrem parte das setas douradas. Lembram a ondulação de águas. 

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