Bárbara em Religare

Conversas com elas

Em uma conversa com sua mãe, Bárbara conhece as histórias de cura de sua avó Zuila, que usava a sabedoria das plantas e frutas para ajudar aqueles que a procuravam. Essas práticas, transmitidas de geração em geração, ressaltam a conexão familiar e o conhecimento ancestral. A narrativa revela como essa tradição de cura com a natureza influencia a vida cotidiana e promove o bem-estar, refletindo a importância do autocuidado e da resiliência em tempos desafiadores.

Transcrição

O quebra-pedra era pra dor de urina, que a gente dizia dor de urina, porque ela não era pra nós, por exemplo, mas muita gente chegava com ela e vinha, às vezes muito doente, ficava em casa, assim, pra poder ela tratar. Então, ela tratava, via mais ou menos o que era e tratava com todos, investigava e tratava, por exemplo, ela dizia que pra pessoa, por exemplo, começar… Depois de uns dias de tratamento e tal, ela fazia aquele banho de cheiro, que ela dizia que acalmava todo a pessoa, o organismo da pessoa, ele ficava mais relaxado. Com o que era esse banho de cheiro? Era uma das plantas cheirosas que ela dizia, ela tinha o… catinga de mulata, eu não lembro… Oriza, era… Alecrim da Angola? Alecrim da Angola, não tinha alecrim do campo também, ela tinha três espécies de alecrim.

Lavada? Era alecrim da Bahia, alecrim da Angola e alecrim do campo, ela usava. Ela colocava alfazema. Alfazema.

Ela colocava, mas ela tinha a planta, ela colocava camomila, que chamava outro nome, mas depois que eu vi que não era, era camomila, não sei se era macela que chamava. Aí, ela fazia aquele banho e para as crianças também. Todas as crianças que nasciam e tudo, tomava aquele banho, acalmava, ela dizia que não chora, criança não chora muito, dorme tranquila.

Então, ela fazia aquele banho que ela dizia que era um banho que era acalmante. E até para nós, grandes, às vezes agitada e tudo, ela dizia, ah, não, vamos tomar um banho, que é para ficar mais tranquilo, mais relaxado. E ela dava, tinha muito, que agora eu não sei, chamam outros nomes, mas tinha o Amor-crescido.

Amor-crescido era para anemia. Ela usava o canarana, que era para dor de urina. O malvariz que eu vi, ela tratava muita gente com erizipela.

Ela amornava a água, deixava bem, jogava as folhas dentro e botava na perna da pessoa, pernas inflamadas, às vezes estava muito inflamada. E ela colocava aquelas folhas de malvariz, que eu não sei como é que chama agora. Para verme, ela usava o mastruz, ela fazia o chá, era uma coisa horrível.

E ela, por exemplo, para anemia, sempre, sempre ela fez o… ela ralava a semente, o caroço do abacate, tirava aquele pozinho e fazia chá. O peão branco, ela pegava a semente do peão branco, ela torrava, depois quebrava, era igual amendoizinho, tirava a semente, como é que a gente diz? A semente, né? É, a polpa de dentro, né? Depois, ela triturava bem e fazia um chá. De peão branco.

De peão branco. Para que era? Para asma. Ou então, o que ela gostava mais de fazer era misturar com mel, depois de torrado e bem moído, misturava com mel e ia dando as colherinhas.

Ela curou a Marlúcia. A Marlúcia disse que veio sentir cansaço e tudo, como se fosse ter asma de novo, agora com 70 anos, ela estava dizendo, 73 anos, que ela acha que é alergia do gato. Mas, ela nunca mais sentiu nada, nada, nada relacionado.

Desde a infância? Desde esse dia que a minha mãe fez isso, esse remédio. Quebra-pedra, ela usava para dor de urina também, via a pessoa sentir dor, não podia fazer xixi, doía muito. Ela ia no quintal, pegava, fazia o chá e dava, ia dando.

No final do dia, a pessoa já não estava mais sentindo nenhum sintoma. E aí, ela dizia, tem que continuar tomando, não por muito tempo, ela dizia, mas tem que continuar tomando, porque não é só uma vez. E eu vi ela fazer isso.

Um tratamento? É, o pirarucu, ela dizia, é bom para anemia. A folha? A folha do pirarucu. Então, ela dizia, tanto se faz o chá, quanto se pode comer cortadinho, como salada.

É, mas é forte? É forte, é muito forte, não pode ser muito, tem que ser pouco, na medida certo. A erva cedreira. Para quê? Para dormir, para o estômago, mas dava sono.

A erva cedreira é uma coisa que… E esse bordo nosso aqui? O bordo, eu não sei, tinha um parecido bordo, que ela sabia a diferença, que ela dizia que era um antibiótico, eu não me lembro o nome, mas era parecido o bordo assim. Não, era terramicina. E ela tirava o que ela dizia que era um antibiótico.

Mas você tem terramicina? Eu tinha, mas não sei. E o hortelãzinho, ótimo pro estômago, esse hortelãzinho dava para as crianças, para melhorar às vezes cólica. É mais láger.

É, o hortelãzinho. O hortelãzinho é tão forte. É, ela usava muito hortelãzinho.

Ela ia e pegava, ficava pensando, aí ela fazia o chá, dava o chá pra isso, hortelãzinho, essas coisas, porque eu via ela fazer. O pariri. O pariri é tão bom, ela dizia que era tão bom para anemia como para antibiótico também.

Ela dizia que é… Antibiótico não, anti-inflamatório, desinflamava. Ela usava também o pariri, mas ela dizia que era bom para anemia. Agora, uma coisa que eu lembro que ela fazia também, como tinha muita castanha, muita, muita, ela pegava o oriço da castanha, mandava cortar e quando cortava na ponta, assim, tinha um que ele chamava umbigo.

Esse umbigo fazia chá que era para anemia. Mas só com umbigo? É só com umbigo. Tem gente que coloca água dentro, mas não é a mesma coisa.

Ela dizia que o certo seria assim. Como é que faz? Põe na água. Só deixa na água? Não esquenta? Não, não, só deixa na água e vai tomando a água.

A água do umbigo. A água do umbigo, é. E a andiroba? Ela não mexia com a andiroba? Não, o andiroba, ela ainda fazia o andiroba, né, fazia o olho, ela tirava o olho. Ela usava para tudo, né, usava para sabão, para fazer sabão, para várias coisas o olho, mas ela gostava muito de usar para fazer massagem.

Ela era muito boa para fazer massagem. As pessoas que chegavam quebradas, toda coisa, em casa ela fazia massagem ou nas pernas ou no corpo todo ela fazia e era uma coisa que é como se curasse, como se fosse lá dentro mesmo. Ela tinha muita fé no andiroba, tanto é que ela usou, ela chegou a usar a andiroba até no Alexandre, pequenino, fazia massagem no Alexandre e tal.

Ela dizia que é para relaxar e ainda mais de, é como se fosse um anti-inflamatório também. É, tem o poder anti-inflamatório. É, para garganta, ela fazia, misturava com banha de galinha, com um pouquinho de copaíba, uma gota de copaíba, porque era muito forte, né, a gente tirava lá da árvore e era.

E aí ela fazia e curava a garganta, passava na garganta e isso ela dizia, e ela dizia, não sei, da fé, não sei, mas curava. Ninguém passava muito tempo doente não, porque qualquer coisa ela tratava assim com ele. Tinham outras, mas eu não lembro.

O tio Beto, quando ele caiu da árvore lá, que ele foi espetado por um arpão, né? Foi. Atravessou ele, ela tratou com o quê? Tô te lendo. Não, ela tratou, ela tratou com copaíba, só que ela tinha, ela dizia, o copaíba, ele, ela, ela passou, chegou e todo, limpou tudo, né, o ferimento, uniu e, não sei, ela pediu para o Manoel, não sei para quem, para colocar.

Ela fez isso e ele colocou, e ela… Tio Manoel, né? É. Aí ela costurou o tio Beto. Foi. E passou o copaíba, pronto.

Demorou três dias, já estava bem, bem, bem sequinho. E foi, foi uma coisa feia. Como foi? Copaíba, mas não tem mais copaíba como antes, né? Por que não tem como antes? Por que tu tá falando isso? Porque, é claro, o copaíba verdadeiro, eles misturam agora.

O copaíba original, ele é uma cor assim, como se poderia dizer, âmbar? Não, não, marrom escuro. Marrom escuro. Fechado, né? Mais para o marrom não, mais para o vinho, não sei, é uma cor, porque nós, eu me lembro bem, porque tinha uma árvore, várias árvores do lado de casa, que a mamãe mandava tirar o óleo do copaíba.

E era uma cola mesmo, porque a gente tinha que ter o maior cuidado de manusear. Agora não é assim, é clarinho. Escorre, né, rápido.

É, escorre rápido, não é. Tu acha que é misturado esse? É misturado, é misturado. Com outro óleo? É, com outro óleo, não sei. E o cheiro também é forte, né? O cheiro é forte, forte.

O copaíba, ele, além de curar, cicatrizar. Eu, quando tava treinando na bicicleta, por aqui, a minha perna rasgou de um lado para o outro, e eu me lembro que ela correu e botou o copaíba e enfaixou a minha perna, e no outro dia eu já tava bem sequinho já. Quer dizer, se eu fosse no pronto-socorro, ia me dar um montão de ponto.

Que remédio químico, né? É, e ela curou só com esse copaíba original mesmo. Tu acha que a gente consegue hoje em dia no interior, assim? Tem que ir no interior, onde tira, onde tem ainda a árvore, não sei mais. A fonte, né? A fonte era o andiroba, e ela nunca deixou de ter o andiroba e o copaíba.

Sempre, sempre. Ah, e como nós tínhamos, às vezes começamos, ela começou a criar carneiro, ovelhas, né, e tudo, ela tirava o sebo de carneiro. Era muito bom, muito bom pra qualquer informação.

Ela misturava. Como é que tira o sebo? O sebo, é porque tem a banha e tem o sebo. Tem muita gente que confunde banha e sebo, é a mesma coisa.

Não é, tem a banha e o sebo. E misturava com a banha de galinha, que ela fritava todo dia, e tirava aquele óleo pra poder, ficava meio durinho. O sebo, misturava com andiroba, pra qualquer informação.

E também, sabe? Por exemplo, a dor de joelho, essas coisas que eu sinto agora, ela curava tudo com isso, com sebo de carneiro. Ela fazia aquele creme e passava no joelho, onde doía, na perna, no braço, com sebo de carneiro. Curava, ninguém sentia dor no joelho, dor na perna, dor nisso, porque ela curava com sebo de carneiro.

Misturava, às vezes, com banha de galinha. Depende, se estivesse inflamado, sebo de carneiro, banha de galinha, andiroba.

Ferramentas de acessibilidade