Uirá era o nome da criança. Uirá, naquele dia, estava em casa quando a mãe chegou e disse assim Uirá, vai lá fora pegar ginja. Uirá não queria ir porque já era perto das seis da tarde, mas ela foi.

Começou a procurar ginja lá fora. Andou, andou. Estava difícil achar porque as árvores estavam secas.

Até que começou a escurecer. Uirá tinha medo de ir lá fora quando escurecia, porque diziam que existia naquela floresta uma bruxa. Mas Uirá procurou, procurou e cada vez mais ia se afastando da casa, entrando na floresta.

Até que deu de cara com a bruxa. Uirá, então, foi devorada e foi parar dentro da barriga da bruxa. Socorro! Alguém me ajude! Eu estou dentro da barriga da bruxa! Assim ela gritava.

E por lá ela ficou. O tempo passava, mas Uirá não desistia. Uirá corria para as pernas.

Socorro! Corria para a cabeça. Alguém me ajude! Voltava para a barriga. Eu estou dentro da barriga da bruxa! A bruxa zombava de Uirá em sua barriga e o tempo passava.

Passaram-se dias, meses, anos, milênios a perder a conta. Até que um dia Uirá resolveu visitar os sonhos da bruxa. Assim que ela dormiu, Uirá correu para a cabeça.

E lá ela viu que no sonho a bruxa brincava com a menina. Era como se as duas fossem amigas. Uirá, então, teve uma idéia.

Quando a bruxa acordou, resolveu fazer um trato. Ô dona bruxa! Ô dona bruxa! Se tu me deixar sair daqui, eu juro, eu prometo que eu nunca vou te abandonar. A bruxa, então, pensou, pensou.

Depois de muito pensar, decidiu fazer o trato. A bruxa, então, chamou um pássaro que entrou pela janela da casa e foi direto nos seus olhos, bicando, furando seus olhos de bruxa. E pelos furos que o pássaro fez, Uirá conseguiu fugir e saiu correndo.

Mas quando estava perto da porta, se lembrou da promessa que fez e decidiu voltar. As duas, então, se abraçaram e nesse abraço se tornaram um ser só. Seu corpo era agora coberto de uma armadura brilhante.

Ela se chamaria Uirá Puru, que significa os furos de Uirá, que foi por onde a menina fugiu. Tinha agora a sabedoria de uma velha bruxa e os olhos de uma criança. E assim ela rumou pelo mundo, disposta a ajudar quem estivesse em apuros, como ela um dia esteve.