Ana em Religare
Transcrição
Havia um vilarejo, em algum canto da terra, onde, certo dia, uma criança nasceu. Como todas as outras crianças do lugar, ela foi muito esperada e, quando nasceu, foi muito bem-vinda. Logo em seus primeiros anos de vida, a família da menina notou algo diferente nela.
A menina tinha um incrível dom. Ela era capaz de comer a doença de alguém, deixando a pessoa inteiramente curada. Quando a população do vilarejo descobriu, a menina passou a receber visitas quase que diárias de pessoas doentes buscando a sua cura.
Cada um que chegava na casa com uma doença, a menina comia e a pessoa saía curada.
Mas este dom tinha um preço. Cada vez que a criança comia a doença de alguém, ela ficava maior e mais velha.
Assim, com o passar do tempo e com a frequência de visita dos doentes, a menina foi crescendo mais rápido que todas as outras do lugar, se tornando muito cedo uma mulher de proporções enormes. Certo dia, a vila foi acometida por uma grave epidemia. Todos adoeceram no lugar e a menina, que agora era mulher, se pôs a visitar todas as casas comendo a doença dos enfermos.
Assim, naquele dia, antes mesmo do sol se pôr, ela conseguiu curar a vila inteira. A partir daquele dia, aquela mulher se tornou uma velha e passou a ter um tamanho descomunal, o que começou a causar incômodos no lugar. Seu tamanho não permitia mais que entrasse nos lugares, mesmo se curvando, não passava mais nas portas e, ao sentar em uma cadeira, as destruía por completo.
Não cabendo mais na vila, a população se reuniu em assembleia e decidiu que a velha deveria morar em outro lugar, que melhor lhe coubesse. Assim, ela foi banida para a floresta. Vivendo na floresta, sozinha, seu coração foi enchendo de amargura.
Recebia a visita apenas de enfermos, que lhe procuravam quando queriam ser curados. Um dia, sua revolta foi tamanha que, ao ser visitada por mais um doente, decidiu, ao invés de comer sua doença, comer a pessoa inteira. Deste dia em diante, o povo que vivia na vila passou a achar a floresta um lugar perigoso, que deveria ser evitado, pois diziam que lá vivia uma bruxa.