Bárbara em Religare

Conversas com elas

Em uma conversa com sua mãe, Bárbara conhece as histórias de cura de sua avó Zuila, que usava a sabedoria das plantas e frutas para ajudar aqueles que a procuravam. Essas práticas, transmitidas de geração em geração, ressaltam a conexão familiar e o conhecimento ancestral. A narrativa revela como essa tradição de cura com a natureza influencia a vida cotidiana e promove o bem-estar, refletindo a importância do autocuidado e da resiliência em tempos desafiadores.

Transcrição

– Quais são as ervas que tu achas que devia ser… ou as coisas de planta para a gente cultivar que seria mais… que seria melhor de ter por perto sempre?

– Hortelãzinho, eu gosto muito de hortelãzinho. Sempre é bom ter hortelãzinho. Você sente desconforto depois de comer muito, comer coisas que não deve. Sente aquele desconforto no estômago. O chá de hortelãzinho é muito bom.

– E andiroba?

– Como diria a minha mãe, especialista. Nunca deve deixar de ter andiroba. Você pode, para desinflamar, uma massagem boa para passar as dores musculares, é bom.

Aí tem os chás, né? O chá de erva-cidreira, o chá de capim-marinho, chá de camomila, de erva-doce, né? Que a gente consegue fácil. Tudo isso, é. Cada um com uma função, né? Tem, cada um tem uma função. Qual seria a função, assim? Olha, a erva-cidreira, eu lembro que o papai não conseguia dormir à noite.

Tinha insônia, então é bom para a insônia e é bom para o estômago também. A erva-cidreira? A erva-cidreira. Mas é bom para a insônia.

Come a camomila, ela calma e faz dormir melhor. Mas como é que faz esse chá? O chá? Pega as folhas, as folhas da erva-cidreira, não pode fazer muito forte. Quantas folhas, assim? Por exemplo, para um copo, para um copo, seis folhas, dependendo do tamanho da folha.

Essa folha que a gente tem aí, por exemplo, assim? Seis folhas, se for só as folhas. Se for com o cabo, pode usar com talo. Reduz para quatro folhas.

Se for para um copo, às vezes a gente só quer fazer de jarra e tudo, já se coloca, vai se calculando. Não pode ser muito forte também. E a camomila? A camomila também, ela tem para um copo, uma colher rasa na água, para um copo.

Deixa ferver ou não? Não, não. Fica só quente e deixa a infusão? É, deixa a infusão. E toma? E toma.

Depois do almoço? Não, pode ser qualquer hora. Depende para quê? Para digestão? Para digestão, pode tomar depois do almoço. Se for para dormir, tomar noitinha.

Ou então toma à tarde. A gente tomava à tarde para lanche, chá. Papai gostava muito de chá, de todo tipo de chá.

Então, ele passou para a mamãe, a mamãe gostava tanto. Então, no lanche da tarde, a gente tomava chá. Chá de capim-marinho, chá de camomila, chá de canela.

Canela, né? Era. Só que a canela, nem todo mundo pode tomar. Principalmente pessoas que têm… é hipertenso.

E grávida, né? E grávida, não pode tomar a canela. Mas a serve para quê, a canela? A canela tinha sua propriedade. Não me lembro, não lembro mais.

Mas a gente tomava para lanche da tarde a canela. Com tapioca. Será que é por isso o enjoar-se de canela? Pode ser, a gente tomava muito.

Muito, muito. E o bordo? O bordo é para dor de barriga, né? Dor de menstruação. É. É. Não pode exagerar.

Nada pode exagerar. É na medida certa. O bordo é para cólicas menstruais, para cólica mesmo, desconforto.

Faz o bordo. Tinha uma outra que eu não lembro mais. Arruíra, parece.

É arruda. Arruda era para os banhos, era para criança. Arruda, eu não me lembro, para quebranto.

Ela fazia banho? Não, bezia. Dizia umas palavras. Era a fé da mãe, a fé dela, não sei.

Eu sei que a criança ficava bem. E os banhos, era como que ela fazia? A Arruda, ela botava todas as plantas cheirosas que ela tinha. Tinha o catinga de mulata.

Catinga de mulata. Tem essa outra que eu não lembro, que a Marluz tem no quintal dela. Tem o patixoli, ela usava o patixoli? O patixoli ela usava pouco, porque ela dizia que não pode ser muito, cheiro muito forte.

Dependendo da idade da criança ou do adulto, pode usar. O patixoli. A preprioca.

A preprioca. Ela usava muito a priprioca. Porque nós tínhamos em casa tudo isso, no quintal.

O patixoli, a preprioca. Tem outras ervas também, erva de São João, não sei o que. E ela usava.

Só que ela fazia, ela fervia, deixava no sereno de um dia pro outro. Ah, é? Era. Esses banhos mais elaborados.

Agora, para vocês, por exemplo, que ela chegou a fazer, quando era um bebezinho assim, um ano, dois anos, ela só fazia… Panceirava na mão. Na mão, jogava na água. E vocês adoravam, ficavam brincando com as folhinhas.

Ela dizia, criança, calma. Criança, fica tranquila. Criança não… Por exemplo, até os seis anos de idade, que eu me lembro que nós viemos pra cá, né? Pra cá, pra Belém.

Pra cá, pra Belém. Ela usava tudo natural. Não existia remédio.

Era longe onde nós morávamos. Onde é que vocês moravam? Nós morávamos… Uma das partes do Rio Jari, né? No Jari. Tinha várias cidades, várias vilas.

E nós fomos em várias delas, nós moramos. Por exemplo, um lugar que… Eu me lembro que a mamãe tinha esse quintal grande de tudo quanto era ervas. Era próximo de Almeirinho, por exemplo.

Chamava Jarilândia, né? E lá ela tinha tudo quanto era ervas. Ela não tinha acesso aos remédios e tudo. E ela curava assim.

Eu tento lembrar. Tinha muitas ervas. Minha mãe tinha muitas plantas.

Grandes até, cheirosas. Tinha. E ela sabia tudo.

Isso serve pra isso, um banho disso, um banho daquilo. E ela gostava muito de fazer com alecrim, com alfazema, com alfazema. Qual era a outra? Ela deixava… Como é que a gente diz? Hidratar.

Eu não sei, ela chamava outro nome. Secar. Depois ela fazia… Desidratar.

Desidratar. E ela fazia defumação. Ela fazia… Canela, né? Canela.

Tudo ela fazia defumação pra deixar o cheiro gostoso na casa. Porque eu sempre tive essa curiosidade. Onde vem o palo santo que a gente usa? Palo santo, aquela madeirinha que é cheirosa.

Sim. Qual é essa madeira? Eu não sei. Sempre tive curiosidade.

Será que ela não tinha lá também? Eu não sei. Porque ela tirava da árvore mesmo, tudo. Eu não sei.

Ela saia pegando assim? Era. Trazia. Até o limão galego.

Limão galego? Eu não sei como ela fazia. Não fervia nada. Ela dizia que tinha que tomar banho com limão galego.

É porque é forte o limão galego, né? É. Não sei como ela fazia, mas ela dizia que o limão galego era muito bom. Muito bom pra tirar das energias negativas. Todas as energias do ruim se dissipam.

Não faz sentido que é alcalino, né? Ele mexe com pH. Pena não ter querido aprender as receitas dela.

(Transcrito por TurboScribe.ai. Atualize para Ilimitado para remover esta mensagem.)

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